Criptografia impõe desafio às necessidades de sigilo e investigação policial

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Depois que a Operação Lava Jato deu início às investigações sobre um esquema bilionário de desvio e lavagem de dinheiro envolvendo a Petrobras, empreiteiras e políticos, o grampo telefônico voltou aos holofotes. Além do alvoroço que causou no cenário político, o vazamento do áudio da conversa entre dois ex-presidentes da República levantou o debate sobre a criptografia no Brasil. Nos Estados Unidos, as revelações de Edward Snowden, ex-analista da Agência Nacional de Segurança, foi outro caso rumoroso que trouxe à tona a questão das interceptações telefônicas.

A escuta telefônica é concretizada quando um dispositivo conectado a uma linha consegue interceptar a comunicação. Assim, o conteúdo de conversas pode se tornar alvo de espionagem ou investigação, legal ou clandestina.

“O uso da criptografia tem aumentado depois dos recentes escândalos no Brasil”, contextualiza Marco Antônio Xavier, diretor da Sabra Inteligência, empresa em contrainteligência empresarial. Segundo ele, uma das formas de investigação é o monitoramento das ligações telefônicas de empresários, políticos e celebridades. “Como estratégia preventiva, e até porque as pessoas perceberam que o celular é vulnerável, houve aumento da demanda por criptografia móvel”, conta. No universo corporativo, a redução ao risco representado por interceptações telefônicas, hackers ou outros ataques maliciosos, se faz com a tecnologia da criptografia, entre outras estratégias.

“A criptografia nada mais é do que o embaralhamento de dados. O sistema mescla as informações, e só quem tem a chave na outra ponta consegue abrir, seja no caso de sistemas de informática ou de telefonia”, explica Xavier. A criptografia é, portanto, uma forma de codificação, com a criação de cifras que tornam os dados ilegíveis, inviabilizando a utilização sem a senha (chave criptográfica).

A criptografia é feito por algoritmos, que embaralham os bits de dados ou voz, por meio de uma chave ou par de chaves, a depender do sistema escolhido. Avi Dvir, presidente da Ormax Tecnologia Eletrônica, também conceitua a criptografia como um processo que viabiliza esconder o conteúdo de voz, dados e imagem numa transmissão de comunicação. “Esses dados são camuflados e não podem ser entendidos na forma original”, diz Dvir.

Na criptografia telefônica, a outra ponta detém a chave para “abrir” a conversa. Sob o aspecto técnico, há dois tipos de chave: a simétrica e a assimétrica. “A simétrica é mais rápida, mas não tão segura, uma vez que a chave usada para encriptar a informação é compartilhada. Já a assimétrica utiliza chaves distintas para decriptação e encriptação, o que aumenta a segurança, de modo que nem o desenvolvedor do sistema tem acesso à chave privada, apenas o proprietário, o que impossibilita a quebra da criptografia mesmo em casos de decisões judiciais”, explica Rodrigo Miranda, diretor da Protect Phone Plus.

Segundo Miranda, instituições financeiras como corretoras e bancos, empresas e indústrias do ramo aéreo, automobilístico, petróleo e gás, escritórios de advocacia e qualquer outra atividade em que as informações nas comunicações de voz sejam sensíveis e tenham grande valor monetário ou estratégico, têm buscado a criptografia para proteger seus ativos.

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