Por Eduardo Masulo*
Ainda vivemos em um mundo retrógrado quando o assunto é o investimento na área de segurança das corporações. Somente quando se instala o caos, após alguma grande perda tangível ou intangível, ou quando se fala nos impactos, é que as marcas, então, resolvem investir na prevenção. Temos uma cultura reativa, mas cabe ressaltar que dependendo do dano e da exposição, pode ser um caminho sem volta ou de longo período para recuperação.
Ao invés de tratar a segurança como custo, é interessante vê-la por outro prisma: em valor gerado. Políticas de segurança bem desenhadas, normativas de fácil entendimento e execução e proteção às informações são pontos que podem ser desenvolvidos dentro das corporações.
Diante de cenários cada dia mais desafiadores, evitar perdas é uma grande vantagem competitiva. Há inúmeros exemplos de exposição e perdas, inclusive com perdas de vidas. Em janeiro de 2019 o mundo se chocou quando a imprensa noticiou um dos maiores desastres ambientais do século, ocorrido na cidade de Brumadinho, no estado de Minas Gerais, onde 270 pessoas perderam suas vidas após uma barragem se romper. As investigações indicaram que os riscos haviam sido sinalizados, então podemos entender que essas mortes poderiam ter sido evitadas.
Naturalmente pensamos como podemos minimizar os riscos de sermos os próximos expostos na mídia, com prejuízo financeiro e ter a marca depreciada por investidores e sociedade. A princípio, a comunicação é um ponto importante a ser trabalhado e os treinamentos, que devem fazer parte das rotinas das equipes, precisam ser respeitados e acompanhados por uma séria política de consequências, assim como a área de segurança precisa estar presente e atenta sobre toda a operação. Tecnologias podem e devem ser utilizadas não somente para identificar pequenos furtos, assim como as imagens precisam ser analisadas sob a ótica da evolução dos processos, da garantia de qualidade, das correções necessárias e de investigações em casos de incidentes ou acidentes que podem ocorrer independente de falhas humanas.
Na cadeia logística, por exemplo, a prevenção se inicia na área comercial, no momento de cadastros de clientes, passando pela roteirização de frotas, controle de entregas, treinamentos em equipes de distribuição, monitoramento ativo e relações institucionais, incluindo recursos adicionais caso seja necessário para alcançar alta performance. Percebam que a segurança deixou de ser um grupo de homens armados ou não, voltados a fazer a proteção de instalações e controles de acesso ou contenção de distúrbios, evoluindo para a contribuição da expansão de mercado, do ambiente seguro e da blindagem da marca, entre outros potenciais ganhos.
Uma cultura de segurança nas organizações comprovadamente apresenta resultados diferenciados, vantagem competitiva e reduz a possibilidade de fraudes, sabotagem, acidentes e incidentes. A sociedade, por sua vez, adota uma postura e exige ilibada conduta de empresas de produtos e serviços demonstrando uma consciência ética. O consumidor não aceita e rejeita empresas com processos e condutas duvidosas.
Assim, diante das atuais exigências do mercado, a segurança é um custo? Caso seu pensamento ainda seja sim, devo aqui escrever o que Sam Walton, fundador da rede varejista Walmart, sabiamente discursou: “clientes podem demitir todos de uma empresa, do alto executivo para baixo, simplesmente gastando seu dinheiro em algum outro lugar”.
Por fim, é necessário que se entenda e reconheça a importância da segurança disruptiva. Os jeitinhos já não têm mais espaço dentro das corporações e contar com a sorte pode custar caro. Regras existem para serem cumpridas e caso as normas não atendam às necessidades, não é motivo para descumpri-las, mas sim de revê-las. As empresas que não entenderam a verdadeira importância da segurança em seus processos, assumem grandes riscos de serem manchetes de jornal, porém de maneira negativa
*Eduardo Masulo é consultor sênior na ICTS Security, empresa de origem israelense que atua com consultoria e gerenciamento de operações em segurança.
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