Chegada do 5G traz impactos em diversas áreas econômicas no Brasil
A quinta geração da telefonia móvel (5G) chegou, no Brasil, no dia 5 de julho, na cidade de Brasília, cujo funcionamento foi aprovado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
A implantação do sinal de internet 5G em todas as capitais brasileiras deverá ser realizada até 29 de setembro deste ano. Mesmo assim, as expectativas sobre as mudanças que a tecnologia vai provocar na vida das pessoas e empresas são enormes.
Segundo Fabrício Sgambati, especialista em redes wireless da FiberX, parceira oficial da Huawei no Brasil, a sociedade começa a viver uma nova revolução. “O uso do 5G mudará completamente nossas vidas. Seja no campo, nas cidades, nas casas, no comércio, na indústria; tudo será impactado positivamente”, diz.
Outra boa notícia refere-se ao menor tempo de expansão. “Não teremos necessidade de construir toda a infraestrutura para isso, basta uma torre e um equipamento para gerar a cobertura. Estimo que em cerca de 4 anos o 5G vai substituir o 4G e uma parte da rede fixa que temos hoje”, destaca Sgambati. Até o fim de 2022, ele prevê que cerca de 2 milhões de brasileiros terão acesso ao 5G.
Expansão mais rápida do que o 4G
A quinta geração de conectividade de rede móvel foi desenvolvida com foco na comunicação entre objetos. Milhões deles estarão interligados simultaneamente à internet, o que vai gerar bilhões de dados instantâneos e permitir tomar decisões mais ágeis e mais assertivas. Ao mesmo tempo, essa ‘conversa dos equipamentos’ vai favorecer a automação de processos, diminuir o trabalho operacional, gerar mais eficiência, segurança e produtividade.
Benefícios do 5G no agronegócio
Entre as vantagens do uso do 5G para o agronegócio, Sgambati cita o exemplo de uma fazenda totalmente conectada.
“A saúde e peso do rebanho poderá ser conhecida na palma da mão. A quantidade de insumos e rações facilitará a logística e a comercialização, sem perda de tempo. Quem produz grãos como soja, milho, café, trigo ou arroz saberá as condições do solo e necessidades de correções ou irrigações, controle da colheita, armazenamento, melhor hora para fazer a venda e outros indicadores que vão trazer eficiência ao negócio”, explica.
O especialista também fala que a chamada agricultura 4.0 terá máquinas autônomas (trator, colheitadeira, caminhão sem motoristas), será mais sustentável e econômica – uma vez que praticamente não haverá desperdícios. O monitoramento de lavouras e pastagens será feito com precisão e isso vai facilitar a identificação de plantas invasoras, pragas e doenças.
“Também será possível conhecer os indicadores pluviométricos de cada parte da fazenda, saber o momento exato da semeadura, localizar fontes de água, abrir vias de acesso e combater incêndios. Enfim, as possibilidades para o agronegócio são incontáveis”, ressalta Sgambati.
5G nas casas
A facilidade de acesso aos dados também vai beneficiar donas de casa, gamers, cinéfilos e quem trabalha em home office.
O representante da FiberX cita o exemplo de um aparelho conectado ao botijão de gás que fará a leitura do consumo e avisará automaticamente a empresa de reposição. “Nunca mais haverá falta de gás”, brinca Fabrício.
O bichinho de estimação fugiu de casa? Com a tecnologia, será mais fácil localizá-lo. Foi viajar e esqueceu algum aparelho eletrônico ligado? Agora será possível desligá-lo, mesmo estando em outra cidade ou país.
Em poucos anos, as casas poderão ter sensores interligados via 5G para detectar problemas elétricos ou gastos de energia.
Para quem aprecia filmes, jogos ou documentários por serviços de streaming, a velocidade é o grande destaque. “Um filme de 25 GB leva cerca de 35 minutos para ser baixado com o 4G. Com o 5G, isso poderá ser feito em menos de um minuto”, conta Fabrício.
No home office, as videochamadas devem se tornar mais estáveis, facilitar a comunicação entre todos os envolvidos e a internet será cem vezes mais rápida.
5G nas cidades
Um dos problemas dos grandes centros urbanos é a mobilidade. Mas para diminuir o tempo de deslocamento – principalmente nos horários de pico – a tecnologia será uma forte aliada.
“Semáforos inteligentes poderão otimizar ciclos de abertura e fechamento do sinal, ajudar a dar vazão ao fluxo de veículos e ônibus, diminuir o tempo gasto para ir ou voltar do trabalho”, destaca o engenheiro.
Luminárias de vias públicas poderão ser ligadas e desligadas com mais precisão – de acordo com a claridade do dia – e diminuir os gastos com energia. Rodovias conectadas poderão informar onde fica o posto de combustíveis mais próximo.
Com tamanha utilidade e previsão de forte demanda, Sgambati e sua equipe se anteciparam para fornecer soluções em 5G aos provedores locais de internet, ao setor energético, área de transportes, governo e grandes empresas.
“O mundo será completamente inteligente e conectado. As pessoas poderão realizar e criar mais valor em suas vidas e aos outros, utilizando as grandes inovações e as tecnologias que o 5G vai proporcionar”, finaliza.
Cidades inteligentes
Com a chegada da tecnologia 5G no Brasil existe uma tendência do aumento da eficiência das cidades e da locomoção do cidadão devido à melhoria da internet.
Conceito muito falado no setor de mobilidade urbana, as cidades inteligentes apostam em funcionalidade, agilidade e eficiência, sendo útil para as pessoas. Nessa linha, o 5G pode tornar as chamadas cidades inteligentes, automatizadas, em realidade. Uma das aplicações já em teste em várias partes do mundo são os carros, ônibus e caminhões autônomos, sem motorista. A inovação também revoluciona a conectividade e melhora a vida das pessoas, uma vez que acelera a conexão entre o tempo real de ônibus e metrôs para o app de mobilidade urbana no qual o consumidor está acompanhando sua jornada diária.
Inserida no discurso de cidades inteligentes, a Quicko é um app de mobilidade que fornece previsibilidade e informação para os deslocamentos urbanos. Em abril de 2022, a startup foi adquirida pelo player global MaaS Global e pretende implementar no Brasil o conceito de MaaS – Mobility as a Service ou Mobilidade como Serviço, que consiste no consumidor ter tudo que precisa quanto à mobilidade na palma da sua mão.
“Nesse sentido, o lançamento da tecnologia 5G é muito benéfico para a Mobilidade como Serviço, uma vez que atribui mais conectividade e agilidade às cidades inteligentes, as quais contam com possibilidades de locomoção por meio de diferentes modais ou seja, diferentes formas de deslocamento, que estejam integrados: bicicletários e pontos de ônibus próximos de estações de metrô, por exemplo”, defende Luisa Peixoto, especialista em mobilidade urbana e Gerente de Políticas Públicas da Quicko.
Crescimento do PIB
O impacto da adoção do 5G no Brasil no crescimento econômico dependerá da velocidade de implementação da nova tecnologia. A diferença entre uma disseminação acelerada ou lenta será de 0,20 pontos percentuais no PIB potencial per capita de 2030, o equivalente a um acréscimo de R$ 81,3 bilhões no PIB neste ano. Os dados são do estudo Tecnologia 5G – Impactos econômicos e barreiras à difusão no Brasil, elaborado pela Confederação Nacional da Indústria.
No cenário mais otimista projetado, em 2030, a penetração do 5G no país será de 81%. No cenário mais pessimista, o indicador cai para 40,5%. Os cálculos consideram a projeção do PIB (em R$) de 2021 e estimativas de crescimento da população feitas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e foram feitos antes do leilão realizado em dezembro.
O crescimento do PIB potencial é resultado do crescimento da população em idade ativa (PIA) e da produtividade do trabalho. Esse último indicador será impactado com a adoção do 5G. Devido ao baixo tempo de resposta (latência) e alta velocidade na transmissão de dados, a nova tecnologia permitirá ampliar as atividades passíveis de automação e digitalização, no contexto de consolidação da indústria 4.0.
Desafios e superação
“Para impulsionarem a produtividade brasileira, novos métodos, como o monitoramento em tempo real do chão de fábrica e a comunicação entre máquinas, dependem não só da alta velocidade, mas, sobretudo, do baixo tempo de resposta e da criação das redes privadas. É determinante que os desafios de implementação dessa nova tecnologia sejam superados, garantindo que o país não fique para trás em relação aos seus concorrentes”, afirma Renato da Fonseca, superintendente de Desenvolvimento Industrial da CNI.
A diferença dos dois cenários mede o custo de oportunidade de não executar as reformas necessárias para a ampla difusão do 5G. Essas medidas são:
– Atualização das legislações municipais para permitir a instalação de antenas;
– Redução da insegurança jurídica associada ao compartilhamento de infraestrutura;
– Regulamentação das redes privativas;
– Uso dos fundos setoriais de telecomunicações de maneira mais eficaz e transparente;
– Aprovação de uma reforma tributária para diminuir o peso de impostos indiretos sobre os serviços de telecomunicações.
Expansão de antenas
Dentro desses desafios, o principal gargalo de infraestrutura é o déficit de antenas instaladas. Para funcionar plenamente, o 5G precisará de cinco vezes mais o número de antenas usadas na rede 4G, devido à operação em frequências mais altas de espectro.
Para ampliar essa estrutura, é necessário que os municípios modernizem suas legislações atualmente baseadas em parâmetros que impõem restrições não condizentes com as características físicas das novas infraestruturas de telecomunicações. De acordo com o Movimento Antene-se, apenas cerca de 1% dos municípios têm leis preparadas para o 5G.
Parte da Agenda Legislativa da CNI, o PL 8518/201, tramitação no Congresso, visa resolver essa defasagem normativa. O texto propõe que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) conceda autorização temporária para instalação de antenas caso o órgão local competente não tenha concedido a autorização definitiva no prazo de 60 dias após o pedido.
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