Com câmeras, inteligência artificial e big data, Brasil busca melhorar seus índices de segurança

Exemplos positivos de cidades em todo o País motivam projeto do Governo Federal para unir esforços e centralizar dados

O Governo Federal, através do Ministério da Justiça, deu início no ano passado a um novo projeto, o Big Data e Inteligência Artificial. A iniciativa, como o próprio nome sugere, visa usar tecnologia e ciência de dados, em grande escala e velocidade, para melhorar a segurança pública das cidades.

Em linhas gerais, o sistema disponibilizado a estados cruza dados de todo o País para identificar e compilar ocorrências, auxiliando no planejamento de ações policiais. Há, por exemplo, ferramentas de georreferenciamento, para acompanhar crimes em relação ao seu tempo e espaço, e de monitoramento, que usa sensores e agentes para indicar uma rápida intervenção.

O projeto está apenas no começo, mas já tem uma previsão de onde quer chegar. Segundo o Ministério da Justiça, será possível mapear atos de criminalidade por área, dia e horário, acompanhar vias e espaços públicos por meio de câmeras, e buscar informações sobre indivíduos e veículos recorrendo a bancos de dados de diferentes regiões. O crime, afinal, ocorre em padrões e, ao reconhecê-los, consegue-se tornar mais eficiente a prevenção e a repressão.

A iniciativa do governo se insere no que vem sendo chamado de cidades inteligentes (smart cities). Elas tiram proveito de novos recursos tecnológicos para melhorar a qualidade de vida do cidadão, e, para tanto, exigem um ecossistema de máquinas coletando dados e se comunicando entre si. No caso da segurança pública, o exemplo clássico é a câmera inteligente, que envia imagens em tempo real a uma central para análise – e por vezes, por meio da inteligência artificial, é capaz de identificar ela mesma o comportamento suspeito.

“As tecnologias ligadas ao videomonitoramento são muito importantes porque elevam os resultados do investimento para uma operação mais proativa e menos reativa”, afirma Selma Migliori, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (Abese). “Em poucas palavras, recursos como reconhecimento facial e outros analíticos de vídeo conseguem transformar as imagens em uma ferramenta para evitar incidentes e não apenas registrá-los”.

Câmeras e mais câmeras

Mas, afinal de contas, o uso intensivo de câmeras contribui para a redução de índices de criminalidade?

“O uso de câmeras pelo setor público se tornou praticamente indispensável. A Abese acompanha a instalação de projetos de videomonitoramento em grandes centros urbanos, mas também em pequenos municípios do interior, e este é sempre um investimento que garante bons resultados”, defende Migliori.

No mundo todo, bem como no Brasil, temos casos que indicam essa correlação. Internacionalmente, destacam-se cidades como Singapura, Sidney e Londres. Localmente, São Paulo e Fortaleza têm obtido bons resultados.

A capital paulista conta com o programa City Câmera, que, para formar uma ampla rede de monitoramento, utiliza não só câmeras de órgãos públicos como também de edifícios residenciais e pontos comerciais. Tem dado certo: a taxa de homicídios em São Paulo caiu de 10,1 homicídios a cada 100 mil habitantes, em 2016, para 4,1 em 2018. Muito distante da média nacional, de 27,8 e abaixo da média estadual de 8,1.

Já as boas práticas de Fortaleza serviram inclusive de inspiração para o Big Data e Inteligência Artificial do Governo Federal. A cidade ainda tem índices altos de crimes violentos, mas conseguiu reduzi-los por 21 meses consecutivos – série interrompida em janeiro último. Os homicídios, por exemplo, foram reduzidos pela metade entre 2018 e 2019, caindo de 1387 para 608.

“É impossível administrar uma cidade do tamanho da nossa sem o fundamental auxílio da tecnologia”, afirmou Cláudio Ricardo, presidente da Citinova Fortaleza, durante seminário da Abese. “Ela melhora a qualidade, reduz custos e aumenta o alcance dos serviços”.

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