A China vem investindo alto na área de softwares, um campo em que manteve pouca expressividade até alguns anos atrás. E isso não se limita aos aplicativos proprietários, com representantes já famosos como TikTok, Kwai e WeChat. A atividade chinesa também é crescente no terreno do código aberto (open source), em que linguagens de programação de sistemas são estudadas e disponibilizadas livremente para modificação e aplicação em diversas finalidades.
“Os chineses cada vez mais colaboram com as principais organizações que mantêm projetos de código aberto, entre elas a Linux Foundation e a Apache Software Foundation (ASF), com doações de algoritmos desenvolvidos”, comenta Fabio Covolo Mazzo, principal software architect da CTC, empresa especializada em soluções e serviços de tecnologia.
Mazzo destaca que a China é responsável por 33% dos repositórios mais em alta, em novembro, no trending do GitHub – principal plataforma mundial de códigos-fonte para programadores. A China também constitui o terceiro país com mais colaboradores do Cloud Native Computing Foundation, atrás apenas dos Estados Unidos e da Alemanha. O Brasil ocupa a 13ª posição.
“Outra amostra do avanço do dragão asiático em software livre é o Deepin, distribuição Linux que visa substituir o Windows em solo chinês e que tem conquistado usuários em todo o mundo por sua facilidade de uso e pela interface atraente”, acrescenta o especialista da CTC.
Plano estratégico
A transição de consumidora a influenciadora em open source, um ambiente dominado historicamente pelos Estados Unidos, é um dos pilares para a consolidação da China como potência em tecnologia e inovação. “Desde o décimo Plano Quinquenal, para o período de 2001 a 2005, o desenvolvimento de software é tratado como algo estratégico para a economia chinesa”, situa Mazzo.
Para um país que optou pelo isolamento em diversos temas relacionados à informatização, o envolvimento com código aberto sinaliza uma busca por maior integração à infraestrutura de tecnologia mundial, além de um maior alinhamento chinês a princípios internacionais de propriedade intelectual. “Os códigos abertos não são exatamente gratuitos. Para tirar o melhor proveito deles, desenvolvedores e organizações têm de contribuir ativamente com as comunidades que os sustentam”, explica Mazzo.
O perito da CTC avalia que a aposta chinesa em open source faz todo sentido do ponto de vista econômico. “O conhecimento de código aberto estimula a formação de uma mão de obra extremamente qualificada e em falta no mercado mundial. Ao promovê-la e absorvê-la, a China obtém um diferencial competitivo valioso na nova economia, muito mais centrada em serviços”, afirma.
Mazzo observa ainda que os próprios softwares livres podem se transformar em grandes negócios, lembrando que diversos programas dessa área hoje obtêm receitas enormes com suporte. “O envolvimento no open source abrevia a resolução de problemas e o desencadeamento de inovações em diversas frentes. É uma oportunidade que as nações não podem ignorar”, comenta Mazzo.
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