Presidente da ABCFAV aponta os desafios para formar vigilantes
Em entrevista à revista Security Brasil, presidente da Associação Brasileira dos Cursos de Formação e Aperfeiçoamento de Vigilantes (ABCFAV), Ricardo Tadeu Corrêa, analisa a tendência de especialização na área de vigilância patrimonial
– por Ana Claudia Machado –
Conforme dados da Polícia Federal, responsável pela atuação dos vigilantes em território nacional, em 2003 havia pouco mais de um milhão de profissionais habilitados para essa atividade. Uma década depois, esse número dobrou, saltando para mais de dois milhões. Tamanho crescimento da mão de obra necessitou, também, de um esforço das escolas e centros especializados para formar esses trabalhadores e qualificá-los de acordo com os critérios exigidos pela PF. Essa questão, bem como os grandes desafios enfrentados atualmente para capacitação, permearam uma das palestras realizadas durante a 20ª edição da Exposec, maior feira de segurança da América Latina. Sob o mote de trazer perspectivas relacionadas à educação técnica na segurança privada, diversos profissionais se reuniram em um dos auditórios dispostos na feira para discutir o assunto. Entre os palestrantes estava Ricardo Tadeu Corrêa, presidente da Associação Brasileira de Cursos de Formação e Aperfeiçoamento de Vigilantes (ABCFAV), que foi categórico ao afirmar que a qualificação é o único caminho possível para profissionais que atuam na área de segurança, visto que, além de zelar pela própria vida, os vigilantes têm a missão de proteger a vida de outras pessoas. “Trata-se de uma formação especializada e que não pode ser tratada de maneira genérica”, ressaltou Corrêa. Confira a entrevista com o especialista:
Quais são os desafios para a formação de vigilantes no Brasil?
Acredito que o maior desafio é mostrar que o treinamento e a qualificação são investimentos, e não custos. A ABCFAV tem tentado mostrar isso aos empresários e aos próprios profissionais, para que entendam que a formação e a reciclagem periódica, mesmo que por força de lei, são altamente necessárias para o setor.
Quais impactos o Estatuto da Segurança Privada, que ainda está em tramitação no Senado, pode trazer à carreira dos vigilantes?
A segurança privada tem uma lei de 1983 (Lei 7.102/1983). Embora o setor já existisse, ela veio para regulamentar as empresas que se formaram anteriormente. E, de lá para cá, a legislação foi sendo desenvolvida como uma colcha de retalhos, com a publicação de portarias e leis complementares etc. O setor se expandiu, mas havia a necessidade de ser discutido de maneira mais abrangente. Isso foi feito há 12 anos, quando representantes da indústria e do governo se reuniram, inclusive a pedido do então ministro da Justiça, ocasião em que fizemos várias minutas para um projeto de lei que conseguisse atualizar a segurança privada em termos de legislação. Tudo isso porque os crimes cometidos hoje em dia não são os mesmos que ocorriam em 1983, assim como o armamento, os modelos de carro-forte e os treinamentos não são os mesmos. Na tentativa de resolver essa questão surgiu o Estatuto da Segurança Privada, que foi sendo elaborado ao longo dos últimos anos num modelo de atualização. Especificamente sobre a atuação dos vigilantes, também há avanços. Os supervisores, por exemplo, passarão a ter um currículo de curso, uma legalização, e serão profissionais reconhecidos. O mesmo acontecerá com os gestores de segurança. Isso quer dizer que, a longo prazo, a área de segurança vai deixar de ocupar uma salinha improvisada nas empresas contratantes e passará a ser um departamento organizado, com uma gestão estruturada.
Como é a relação dos centros de formação com as empresas que fornecem a mão de obra e as que contratam? Como ajustar a grade de ensino para suprir as demandas do mercado?
Nós temos um currículo mínimo a ser seguido nos cursos de formação e reciclagem de vigilantes. Atualmente é muito difícil para uma escola especializada sair desse mínimo para apresentar qualquer item a mais. Isso porque nós não conseguimos repassar esse custo que o “algo a mais” gera. Por outro lado, nossos centros de formação acabam se reinventando. Quando se fala em parcerias entre as escolas e as empresas de segurança, esse tipo de diferencial está muito atrelado ao contrato com a empresa que solicita o serviço de vigilância. Nós temos casos, por exemplo, de consulados e indústrias estrangeiras, e até mesmo condomínios de alto padrão, que incluem no contrato um prazo menor do que o exigido pela legislação para reciclagem, no intuito de reforçar o treinamento dos vigilantes. Alguns, inclusive, colocam que a reciclagem deve ser feita de seis em seis meses e especificam até mesmo quais assuntos precisam ser abordados, muitas vezes ampliando a grade curricular. Nesses casos, é formado um tripé entre o centro de formação, a empresa de segurança e a que contrata o serviço. Isso significa que, diante do atual cenário, é o contratante que precisa começar a exigir esse “algo a mais” e entender que o serviço que ele irá pagar não é algo genérico. Podemos usar como exemplo um vigilante que atua há 10 anos em um banco e passa a trabalhar em um shopping center. A empresa que está contratando o serviço precisa entender que há riscos específicos em um shopping e que o profissional precisa ser treinado para lidar com eles. Elementos básicos como o tipo de público, a análise de risco e o gerenciamento de crise são diferentes para cada local e, consequentemente, a reação do vigilante está diretamente relacionada a uma análise bem apurada desses fatores. Uma das ações da ABCFAV, que atua como representante dos centros de formação de vigilantes, é tentar mostrar às contratantes que as empresas de segurança estão no meio desse tripé, ou seja, se a exigência por qualificação não partir do mercado, não chegará na outra ponta, que é a escola e, por sua vez, ao próprio profissional que ela demanda.
Confira a íntegra da entrevista na revista Security Brasil (ed. 170 – julho/agosto)