Resistência à Indústria 4.0 no Brasil caiu com a pandemia

Diretorias de empresas passaram a ver a nova revolução industrial como fundamental para sobrevivência dos negócios

A pandemia da Covid-19 eliminou resistências e tem levado empresas a buscar recursos para avançarem rumo à quarta revolução industrial, conhecida como Indústria 4.0. A opinião é do diretor executivo do Instituto Avançado de Robótica, Rogério Vitalli. Estudioso no assunto, ele lembra que a transformação digital já estava na agenda da maioria dos empresários, mas acelerou com a necessidade de trabalho remoto, provocada pelo isolamento social.

Em março, quando a Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceu a pandemia do coronavírus, a realidade mudou, segundo Vitalli. “As empresas não têm mais para onde correr. São obrigadas a promover a transformação digital para continuarem funcionando. Tanto que hoje existem muito mais companhias engajadas nesse processo. Acabou a resistência. O teletrabalho já é uma realidade”. No entanto, lembra o executivo, há um longo caminho para ser trilhado.

De qualquer forma, Vitalli lembra que a tecnologia já faz parte do cotidiano de todas as empresas e tem provocado melhorias nos processos produtivos. E a união entre a tecnologia dessas companhias e a Internet das Coisas (IoT na sigla em inglês para Internet of Things) alavanca a nova revolução. Assim, as aplicações industriais ganham conexão digital com a internet e podem ser melhor controladas, melhorando a eficiência e a qualidade dos produtos.

Ritmo mudou

Esse processo tem se acelerado no mundo todo há alguns anos. Mas, de acordo com Vitalli, apesar da consciência sobre a necessidade de transformações, o Brasil avançava de forma bastante lenta. “Havia muita resistência nas diretorias das empresas por desconhecimento, falta de pessoal especializado e, principalmente, falta de dinheiro para promover as mudanças”, lembra o especialista. “É preciso reconhecer também que não era nada barato”, diz.

Com a pandemia, as empresas brasileiras viram ser inevitável otimizar cada vez mais esse processo. Isso, segundo pesquisa da Juniper Research, empresa de consultoria, pesquisas de mercado e business intelligence do Reino Unido, é um fenômeno mundial. Tanto que verificou na pesquisa “Industrial IoT: Future Market Outlook, Technology Analysis & Key Players 2020-2025”, que a Internet das Coisas no setor industrial deve crescer 107% nos próximos cinco anos.

Mudança não apenas de conceito

A transformação promovida pela Indústria 4.0 não se limita à automação de todos os processos operacionais e a integração com a internet. Isso não basta, segundo Vitalli. O empresário precisa reestruturar sua empresa e preparar todos os setores para garantir a eficiência do sistema. “A indústria necessita de novos profissionais, preparados para desempenhar tarefas que exigem alta qualificação”, alerta. “As vagas de emprego vão surgindo, mas não são preenchidas pelo despreparo dos trabalhadores”.

Vitalli diz ainda que o uso de aplicativos e softwares de inteligência artificial provoca mudanças nas relações de emprego. “De certa forma, o sistema é capaz de produzir de forma autônoma, sem a presença de uma pessoa para operar as máquinas. Por isso, os trabalhadores atuais precisam ser preparados para novas funções. Mas essa preocupação parece que ainda não está na agenda das empresas. Também vimos, nos últimos anos, o SENAI, que sempre formou mão de obra para a indústria, reduzir seus cursos e não se atualizar”, lamenta.

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