Com representatividade consolidada, ABESE completa 25 anos

Em entrevista ao Portal Security, Selma Migliori, presidente da associação, falou sobre a trajetória da entidade, os avanços e conquistas alcançados para o setor de segurança nesses 25 anos de história. Também destacou a importância da liderança feminina e participação das mulheres no ambiente corporativo para a longevidade de qualquer organização que queira se consolidar em um cenário de negócios cada vez mais competitivo. 

Quais as principais iniciativas que marcaram a trajetória da ABESE na evolução do mercado de segurança eletrônica no Brasil?

R: Acredito que se quisermos eleger um marco, poderíamos citar a consolidação da EXPOSEC como a principal vitrine de segurança da América Latina. O evento impacta não apenas a trajetória da ABESE, mas também todo o ecossistema nacional e latino-americano. No entanto, de maneira geral, penso que o que marca o nosso trabalho nestes 25 anos é a representatividade e a horizontalização da segurança eletrônica. A ABESE estabeleceu um diálogo importante com diferentes segmentos do mercado (videomonitoramento, rastreamento, portaria rêmora, controle remota) da segurança eletrônica e, mais do que isso, através de comitês específicos de cada um desses segmentos conseguimos contribuir ativamente para a elaboração de normas técnicas, novas diretrizes e defesa do segmento – como é o caso da atuação da Abese para assegurar o direito dos condomínios na contratação de Portarias Remotas.

Além disso, há o trabalho conjunto que estamos desenvolvendo com o setor público em diversas esferas. Posso citar a batalha pela aprovação do projeto de lei específico para a regulamentação do setor e a aprovação do Estatuto da Segurança Privada – um projeto que estamos liderando há 13 anos e que agora aguarda votação no Senado. Também é preciso lembrar da nossa participação do grupo de elaboração da Carta das Cidades Inteligentes do Ministério de Desenvolvimento Regional, as câmaras temáticas do MCTI para representar a segurança eletrônica no Plano Nacional de IoT, além da co-fundação do Programa Nacional de Inovação Terra2 Inova para integrar a segurança eletrônica com o ecossistema de inovação.

Na sua avaliação, quais foram os avanços da indústria nacional de equipamentos e sistemas eletrônicos de segurança?

R: Os avanços foram muitos. Existe uma evolução tecnológica inegável, sobretudo com a consolidação das tecnologias habilitadoras (IoT, Inteligência Artificial, Blockchain, entre outras). No entanto, esta não é uma exclusividade da indústria nacional, mas um acontecimento global. Sobre a Segurança Eletrônica brasileira eu destaco a profissionalização que os empreendedores do segmento vêm buscando nos últimos anos.

Essa tendência tem elevado o nível de capacitação dos nossos profissionais e das empresas, assim a segurança eletrônica conseguiu se consolidar como um setor essencial economicamente e de interesse social. Os cursos, seminários e eventos de formação promovidos pela ABESE no Brasil inteiro estão sempre cheios de profissionais interessados em se atualizar e, para mim, este é um diferencial do nosso segmento. O resultado desse trabalho está nos números de crescimento de mercado que apresentamos ano-a-ano.

Como a associação tem se capacitado para atender aos interesses das mais de 500 empresas associadas

R: A ABESE está sempre na vanguarda do desenvolvimento deste mercado, portanto sempre atenta às tendências. Por exemplo, quando o plano Nacional de IOT foi anunciado, antecipamos às discussões nas câmaras temáticas internas do MCTI, Ministério de Ciência Tecnologia e Inovação, para mostrar a relevância do setor de segurança eletrônica dentro deste contexto.

Além disso, a ABESE está sempre disposta a ouvir nossos associados. Nos estruturamos a partir das demandas que eles mesmos nos trazem, portanto juntos aprendemos e evoluímos em discussões internas. Posso citar um exemplo prático sobre a  LGPD, que está sendo uma matéria de amplo estudo em todos os comitês da Abese  em função das particularidades de cada mercado. Em breve, durante a inédita Exposec Virtual, lançaremos um mapa legal sobre a LGPD consolidando estes avanços para auxiliar todas as empresas do segmento na proteção de dados.

Que medidas tiveram que ser tomadas com a pandemia de Covid-19 para manter a agenda de atividades da associação programada para este ano?

R: Antes da pandemia realizávamos eventos presenciais em diferentes cidades durante o ano inteiro através dos Simpósios Regionais. Contudo, nossa adaptação foi rápida: na segunda quinzena de março com o início da pandemia transferimos imediatamente todo o trabalho e informações para nuvem, adotamos ferramentas online, colocamos a equipe em home office e em 1 mês readaptamos todo planejamento anual.

Já em abril iniciamos os nossos eventos virtuais gratuitos, abertos e semanais com debates sobre temas que pudessem ter um impacto prático na gestão das empresas neste momento, além disso produzimos diversos materiais, orientações práticas por meio de e-books que estão disponíveis gratuitamente no site https://materiais.abese.org.br/

Nossa atuação foi estruturada para auxiliar nossos associados a darem continuidade em suas atividades comerciais apesar das restrições. Também nesse sentido, criamos um Comitê de Gestão de Crise que reuniu uma equipe multidisciplinar com o objetivo de acolher as necessidades do nosso associado e, mais do que isso, para que juntos apontássemos caminhos possíveis e positivos nos temas de vendas, legislação, tributária, atendimento, entre outros assuntos.

Também realizamos nesse período o evento Conexão Abese Online, gratuito, que reuniu mais de 25 palestrantes em três dias de debates e networking. O sucesso desse encontro nos levou a realizar a 2° Edição do evento que está marcado para os dias 01 e 02 de dezembro, dentro da programação da inédita Exposec Virtual – que é um grande projeto em conjunto com a CIPA FIERA MILANO. Estamos felizes e com muita expectativa para reunir as principais marcas do setor e apresentarmos conteúdo de alto nível durante esta 1ª Exposec Virtual que, definitivamente, será um marco para o mercado.

Levantamento da ABESE indica que o setor teve um crescimento de 40%, com maior demanda nos segmentos de portaria remota, câmeras térmicas e câmeras com reconhecimento facial. Quais são as projeções para 2021?

R: Este crescimento diz respeito às soluções de segurança eletrônica relacionadas às demandas que surgiram durante a pandemia, como portaria remota e câmeras de reconhecimento facial que atendem às necessidades de segurança e controle de acesso sem a exigência de contato físico. Ainda entram nessa conta, as câmeras termográficas que passaram também a ser utilizadas para checar a temperatura das pessoas em espaços de grande circulação e também outros cenários.

Para 2021, nosso levantamento indica que teremos um crescimento de outros segmentos da segurança eletrônica que ficaram paralisados durante a pandemia, gerando uma demanda reprimida a ser explorada pelo mercado. Isso nos leva a crer que observaremos uma expansão de mercado e a entrada da Segurança Eletrônica em setores que ainda se mostravam resistentes à tecnologia.

Aproveito para anunciar que neste momento a ABESE está realizando a pesquisa “Panorama do setor de segurança eletrônica 2021”, de forma segmentada, ou seja, para cada vertical da segurança eletrônica. Vamos reunir as informações recebidas e elaborar um relatório para que todos tenham parâmetros relevantes para definir as ações para o próximo ano. Convido todos os profissionais da Segurança Eletrônica a participarem desta iniciativa que será fundamental para estruturar o planejamento estratégico do próximo ano: https://bit.ly/PesquisaAbese2021

Quais foram os impactos para o setor com o adiamento da Exposec para junho de 2021?

R: A EXPOSEC é o ponto de encontro do setor de segurança eletrônica e reúne os principais lançamentos da indústria. A feira representa um aquecimento nas vendas dos expositores e é responsável por acelerar grandes negociações. Em alguns casos, os contratos gerados na Exposec são responsáveis por bater a meta semestral de algumas empresas participantes. Além disso, é a oportunidade do setor se reunir para trocar experiências.

Em resumo, o evento fomenta e gera milhões em negócios, promove fortalecimento do relacionamento entre fornecedores e prestadores de serviços, apresenta novas tecnologias, lançamentos de soluções disruptivas não só pela indústria consolidada, mas também por startups que participam da Ilha de Inovação promovida pela Abese.

Assim, mesmo com o aquecimento do mercado durante a pandemia, decidimos transferir o evento presencial para o próximo ano, de 08 a 10 de junho de 2021, porque a saúde dos participantes está em primeiro lugar. Ouvimos com cuidado o posicionamento das marcas expositoras e acompanhamos as recomendações internacionais de segurança e saúde para embasar a nossa decisão.

Contudo, apresentaremos ao mercado nos dias 01 e 02 de Dezembro, das 08h00 às 18h00, uma experiência pioneira: a EXPOSEC Virtual. Estudamos muito para encontrar uma ferramenta que proporcionará ao visitante virtual uma experiência disruptiva. Acreditamos que o evento virá em boa hora porque o segmento já se adequou às novas demandas, novas soluções surgiram neste período para atender a realidade do novo normal e, agora, poderemos ter muito mais abrangência para negociar soluções com toda América Latina e fechar grandes parcerias durante o evento online.

Quando você assumiu a presidência da ABESE, quais eram as suas metas e quais delas foram mais desafiadoras até o momento? Por quê?

Uma das nossas principais metas é manter os princípios de gestão que a Abese implementou desde sua fundação: uma associação ética, com ações transparentes e canais ativos para ouvir os associados – como os comitês representativos de cada segmento onde geramos discussões conjuntas para estruturar as ações efetivas.

Direcionamos o planejamento estratégico tendo algumas metas como prioridade: o crescimento da Exposec, que apresentou crescimento médio de 20% nos últimos 4 anos; o crescimento do Congresso Abese realizado no segundo semestre; a consolidação do segmento de portaria remota que enfrenta desde o ano passado projetos que visam a proibição inconstitucional da contratação desta solução; a aprovação e regulamentação de uma lei para o segmento de serviços; além da consolidação da Abese como referência nacional na imprensa brasileira e a nossa representatividade junto aos órgãos públicos para defesa da segurança eletrônica.

Dentre estas metas, a mais desafiadora é a aprovação do Estatuto da Segurança Privada porque não depende apenas do trabalho da Abese. O projeto de lei está há 13 anos em debate e, agora, está na reta final, aguardando a votação no Senado para, na sequência, ter a sanção do Presidente da República. Sendo aprovado, o Estatuto da Segurança Privada vai  inserir definitivamente a segurança eletrônica como um pilar independente e possibilitará que o tomador de serviços contrate o setor de forma independente, inclusive para o setor bancário, cumprindo as premissas básicas da Constituição Federal que é a livre iniciativa e livre concorrência. Inclusive, aproveito para fazer um convite ao mercado de segurança eletrônica e aos nossos associados para que contribuam conosco nas discussões sobre a regulamentação dessa lei que, ao ser aprovada, teremos um prazo de 90 dias e três anos para que as empresas se adequem às novas regras.

Atualmente, como é composta a rede de parceiros da associação?

R: É uma rede horizontal e multidisciplinar. Hoje, a Abese conta com parceiros federais, governamentais e municipais, iniciativas públicas e privadas, da sociedade civil, entre outros. Importante frisar que firmamos parcerias para contribuir nas diversas iniciativas de inovação no Brasil, como a participação no grupo de elaboração da Carta das Cidades Inteligentes do Ministério de Desenvolvimento Regional (MDR); a participação nas câmaras temáticas do MCTI; além de co-fundar o programa Nacional de Inovação Terra 2 Inova, que tem como objetivo desenvolver ações e engajamento com os diversos atores do ecossistema de inovação nacional, como Academias, Centros de pesquisas (ICT’s- CITI – USP – CPQD), empresas de tecnologia e comunicação (TIC’s) e Instituições de Fomento, como a FINEP. O intuito desse trabalho e representar o setor de segurança eletrônica e integrar as empresas do segmento nesse ecossistema, sempre fomentando novas oportunidades de negócios.

Firmamos parcerias com outros atores como corretoras de seguros, instituições financeiras, contábeis entre outros, com o objetivo de levar benefícios aos nossos associados.

Como você vê o crescimento da liderança feminina no ambiente corporativo?

R: A liderança feminina e a participação das mulheres no ambiente corporativo é essencial para a longevidade de qualquer organização que busque se consolidar em um cenário de negócios cada vez mais competitivo. É muito importante a promoção de um ambiente diverso porque assim garantimos diferentes perspectivas sociais para embasar as decisões frente a um mercado que está em constante transformação. Por exemplo, a partir do nosso posicionamento e da participação de outras colaboradoras e colaboradores, abrimos espaço para uma campanha que buscava incentivar a adoção de medidas contra o feminicídio em projetos de segurança eletrônica. Assim, ABESE poderia indicar estas novas ferramentas em futuros projetos, inclusive junto ao poder público.

Também recordo que no ano passado, a convite da deputada federal Luísa Canziani (PTB-PR), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher, estivemos em Brasília para palestrar em audiência pública sobre novas tecnologias destinadas à prevenção e combate à violência contra a mulher e as famílias. Nós, profissionais da segurança eletrônica, sabemos do potencial do nosso setor. Nossas soluções abarcam diversas tecnologias, como videomonitoramento, alarmes, controle de acesso, reconhecimento facial, entre outras, que podem ser integradas e utilizadas para o combate do feminicídio. A nossa responsabilidade é muito grande porque os equipamentos de segurança são onipresentes em condomínios, dentro de elevadores e nas ruas 24h por dia e 7 dias por semana, além de controlar acessos aos empreendimentos e cuidar das informações, principalmente após a aprovação da LGPD.

Qual o legado que a ABESE vai deixar para sua vida profissional e pessoal?

R: A minha trajetória na ABESE me ensinou que, independente dos desafios de cada setor, é importante que o profissional busque se posicionar de maneira responsável e pronto para fazer parte da solução. Para isso, é essencial se apoiar em informação de qualidade, debates multidisciplinares e, principalmente, estar disposto a trabalhar coletivamente para consolidar não apenas a própria empresa, mas o mercado como um todo. É o lema da Abese, mas também é o meu lema pessoal: Juntos Somos Mais.

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